Me lembro dos primeiros pedais nacionais de quando era criança. Aprendo com meu tio Cid, Eli e Joylson, grandes amigos pra vida.
Um certo dia apareceu um cara chamado Boaz, ele tinha um pedal giannini phaser. Foi a coisa mais incrivel que já ouvi.
Meu pai foi comigo depois disso, em uma loja no centro de São Paulo, e conhecemos os lançamentos da época. Comprei o famoso wah-wah de uma marca chamada sound. Dai pra frente nunca mais parei.
E como você já deve saber, quem começa a fazer rolos de pedais nunca para.
Bem, vamos à materia.
Os pedais de efeito para guitarra têm desempenhado um papel essencial na música moderna, permitindo aos guitarristas moldar o som do seu instrumento e expandir os seus horizontes criativos. Desde os primeiros dispositivos rudimentares até à vasta gama de pedais modernos, a evolução dos pedais de efeito reflete o progresso tecnológico e a constante busca dos músicos por novos sons. Neste artigo, exploramos a história desses pedais, começando pelas suas origens até os desenvolvimentos mais recentes, destacando os momentos chave que moldaram o panorama atual da guitarra elétrica.
As Origens dos Efeitos: Os Anos 1930 e 1940
A história dos efeitos de guitarra começa com o próprio desenvolvimento da guitarra elétrica no final da década de 1920 e início dos anos 1930. À medida que as guitarras elétricas começaram a ganhar popularidade, músicos e engenheiros procuravam formas de alterar e ampliar o som natural do instrumento. Um dos primeiros efeitos a surgir foi a distorsão. Nos anos 1940, guitarristas descobriram que ao “sobrecarregar” os amplificadores, ou seja, forçando-os além dos seus limites de operação normais, produzia-se um som distorcido e encorpado, que logo seria adotado em géneros como o blues e o rock and roll.
O Papel do Amplificador
Durante este período, os amplificadores desempenhavam um papel crucial na criação de efeitos. Um exemplo notável foi o guitarrista Junior Barnard, que experimentou com amplificadores sobrecarregados para criar um som distorcido. Contudo, os pedais de efeitos como conhecemos hoje ainda não existiam; a maioria dos músicos confiava em modificações nos próprios amplificadores para obter o som desejado.
A Chegada dos Primeiros Pedais: Anos 1950 e 1960
Nos anos 1950 e 1960, a busca por novos sons levou ao desenvolvimento dos primeiros pedais de efeitos comerciais. Estes pedais começavam a oferecer uma forma mais controlada de manipular o som da guitarra, abrindo caminho para a revolução sonora que ocorreria nas décadas seguintes.
Fuzz: O Primeiro Efeito de Pedal
Um dos primeiros pedais a ganhar notoriedade foi o Fuzz Tone, que se popularizou no início dos anos 1960. Um dos momentos mais importantes na história do fuzz ocorreu em 1961, quando o engenheiro Grady Martin acidentalmente descobriu o som fuzz ao gravar “Don’t Worry” de Marty Robbins. O som distorcido foi inicialmente causado por um defeito no canal do pré-amplificador. Contudo, este efeito logo ganhou adeptos. O fuzz foi formalmente introduzido como um efeito com o lançamento do Maestro FZ-1 Fuzz-Tone, um dos primeiros pedais de fuzz disponíveis comercialmente, popularizado em 1965 pela canção “Satisfaction” dos Rolling Stones.
O fuzz distorce o sinal da guitarra de forma a criar um som sujo, comprimido e agressivo. Esta distorção não só se tornou um ícone do rock, mas também abriu portas para outros pedais que moldariam o futuro dos efeitos.
Wah-Wah e o Nascimento de um Som Distintivo
Outro pedal icónico que surgiu nos anos 1960 foi o Wah-Wah. Este efeito altera as frequências sonoras da guitarra, criando um som que se assemelha ao som “wah-wah”. O primeiro pedal wah, o Vox Cry Baby, foi lançado em 1967 e rapidamente adotado por guitarristas como Jimi Hendrix, que o utilizou de forma proeminente em músicas como “Voodoo Child (Slight Return)”. O wah tornou-se um som característico da música psicadélica, do funk e do rock dos anos 60 e 70.
Tremolo e Reverb: Efeitos Clássicos
Embora fuzz e wah tenham introduzido sons distorcidos e expressivos, outros efeitos ofereciam texturas mais subtis e atmosféricas. O tremolo e o reverb, por exemplo, foram dos primeiros efeitos eletrónicos introduzidos diretamente em amplificadores. O tremolo modula o volume do sinal da guitarra, criando um som pulsante, enquanto o reverb adiciona uma sensação de espaço ao som, imitando a reverberação natural em salas e espaços maiores.
Os Anos 1970: Distorção e Overdrive
Nos anos 1970, a distorção e o overdrive tornaram-se os efeitos dominantes, particularmente no rock. Guitarristas como Jimmy Page dos Led Zeppelin e Tony Iommi dos Black Sabbath começaram a explorar sons mais pesados e saturados, ajudando a definir o som do hard rock e do heavy metal.
O Desenvolvimento do Overdrive
Ao contrário do fuzz, o overdrive e a distorção surgiram como tentativas de simular a sobrecarga natural dos amplificadores a válvulas, mas de uma forma controlada. Pedais como o Ibanez Tube Screamer, lançado em 1979, permitiam aos guitarristas alcançar esse som sem precisar de levar o amplificador ao limite. O Tube Screamer tornou-se um dos pedais mais icónicos de todos os tempos, usado por guitarristas como Stevie Ray Vaughan e Eric Johnson para obter um overdrive suave e quente.
Chorus, Flanger e Phaser
A década de 1970 também viu o surgimento de efeitos de modulação como o chorus, flanger e phaser, que criavam texturas mais complexas. O chorus simula a duplicação do som, criando uma sensação de profundidade. O flanger, por outro lado, cria um efeito ondulante ao atrasar ligeiramente o sinal da guitarra e misturá-lo com o original. O phaser, muito utilizado em géneros como o funk, cria um efeito “espacial” ao modular as frequências de forma cíclica.
O Electro-Harmonix Small Clone foi um dos pedais de chorus mais conhecidos, sendo usado por Kurt Cobain dos Nirvana na icónica faixa “Come as You Are”.
A Explosão dos Pedais nos Anos 1980
Nos anos 1980, os pedais de efeito tornaram-se mais acessíveis e variados. Com a ascensão da música eletrónica e do new wave, os efeitos tornaram-se cruciais para definir o som de muitas bandas. Pedais digitais começaram a ganhar popularidade, proporcionando novos níveis de flexibilidade e inovação.
Efeitos Digitais: Delay e Reverb
O delay é outro efeito crucial que ganhou grande popularidade nos anos 1980. Ele repete o som da guitarra com um pequeno atraso, criando um efeito de eco. O Boss DD-2, lançado em 1983, foi o primeiro pedal de delay totalmente digital, permitindo uma precisão e uma clareza nunca antes vistas. Juntamente com o delay, o reverb digital também se tornou popular, proporcionando aos guitarristas uma gama de ambientes sonoros complexos.
O Papel dos Multi-Efeitos
Os anos 1980 também testemunharam o surgimento dos pedais de multi-efeitos, que combinavam vários efeitos num único dispositivo. Estes pedais, como os da série Boss ME, permitiram aos guitarristas aceder a uma variedade de sons sem a necessidade de transportar vários pedais individuais. Embora os pedais de multi-efeitos nem sempre fossem tão apreciados pelos puristas, tornaram-se uma solução prática para muitos músicos.
O Resgate Vintage e a Diversidade Moderna: Anos 1990 e 2000
Nos anos 1990, os pedais “vintage” começaram a ressurgir. Pedais clássicos como o Big Muff da Electro-Harmonix, um pedal de fuzz distorcido lançado originalmente nos anos 1970, voltaram a ganhar popularidade graças a guitarristas como Billy Corgan dos Smashing Pumpkins e Jack White dos White Stripes. O Big Muff tornou-se sinónimo do som alternativo e indie rock.
Boutique Pedals e o Mercado de Efeitos Personalizados
À medida que os pedais clássicos voltavam a entrar em voga, os pedais boutique começaram a ganhar tração. Pequenas empresas independentes começaram a criar pedais artesanais, muitas vezes inspirados em designs vintage, mas com uma atenção ao detalhe e à qualidade que os tornava altamente desejados. Pedais como o Klon Centaur, que se tornaria um dos pedais de overdrive mais procurados, exemplificam essa era de pedais boutique.
A Era Digital e o Futuro dos Pedais de Efeito
Hoje, os pedais de efeito estão mais diversificados do que nunca. Com a tecnologia digital em plena evolução, empresas como a Strymon e a Eventide criaram pedais que oferecem efeitos de alta qualidade e uma flexibilidade quase ilimitada. Pedais como o Strymon Timeline ou o Eventide H9 combinam vários efeitos num só, permitindo aos guitarristas programar, salvar e alterar presets com uma precisão incrível.
Ao mesmo tempo, o desejo por simplicidade e autenticidade também trouxe uma nova onda de pedais analógicos. A popularidade dos pedais vintage e a produção de novas versões de designs clássicos continuam a mostrar que, embora a tecnologia avance, o amor pelos sons clássicos e analógicos permanece forte.
Conclusão
Os pedais de efeito para guitarra passaram por uma evolução fascinante ao longo das décadas. Desde os primeiros dias de amplificadores sobrecarregados até os complexos dispositivos digitais de hoje, os pedais desempenham um papel crucial na forma como os guitarristas expressam a sua criatividade. Quer se trate de um simples fuzz ou de uma intricada cadeia de multi-efeitos, os pedais continuam a moldar a paisagem sonora da música moderna, proporcionando aos músicos as ferramentas para explorar novas fronteiras sonoras.
Fontes importantes: Minhas experiências e i.a.